Um novo estudo do setor revela que a fragmentação no uso de carteiras e a complexidade das experiências do usuário estão entre os maiores obstáculos para a adoção em massa de criptomoedas. Com os ecossistemas de blockchain ainda amplamente isolados, mais usuários do que nunca estão lidando com múltiplas carteiras para gerenciar seus ativos — mas a inteligência artificial pode oferecer uma solução.
De acordo com uma pesquisa conduzida pela plataforma de UX onchain, Reown, e pela empresa de análise de blockchain Nansen, 62% dos usuários de criptomoedas relataram ter usado pelo menos duas carteiras nos últimos três meses — um aumento acentuado em relação aos 45% registrados em 2024. A crescente tendência de multicarteiras destaca a falta de interoperabilidade entre cadeias e o atrito que os usuários enfrentam ao interagir com diferentes ecossistemas de blockchain.
A pesquisa, que incluiu 1.000 participantes, também esclareceu as principais preocupações dos usuários em relação ao uso de carteiras. Cerca de 18% disseram que a segurança continua sendo sua principal preocupação, enquanto mais de 10% apontaram para uma interface de usuário e experiência geral ruins.
Essa fragmentação — tanto em termos de abordagens de segurança quanto de compatibilidade com blockchain — cria uma curva de aprendizado acentuada para os usuários comuns.
De acordo com Eowyn Chen, CEO da Trust Wallet, a próxima onda de usuários de criptomoedas, especialmente aqueles provenientes de plataformas Web2 ou economias emergentes, espera simplicidade, segurança e design intuitivo.
“Estamos em um momento crucial na evolução da experiência do usuário (UX) em carteiras.”
Chen enfatizou que as carteiras de criptomoedas estão passando por uma transformação, não servindo mais apenas como unidades de armazenamento para ativos digitais, mas evoluindo para gateways inteligentes para o ecossistema Web3 mais amplo. Essas carteiras modernas atuam cada vez mais como hubs para gerenciar identidades digitais, acessar finanças descentralizadas (DeFi), participar de governança e até mesmo jogos.
Para lidar com a crescente complexidade da Web3, as carteiras precisam se tornar companheiras impulsionadas por IA — capazes de entender o comportamento do usuário, antecipar necessidades e protegê-lo de ameaças como golpes de phishing. Agentes de IA podem ajudar os usuários a navegar em aplicativos baseados em blockchain com a mesma facilidade com que navegam em uma loja online.
Essa visão ganhou urgência após um roubo de US$330 milhões envolvendo uma vítima idosa nos EUA, supostamente causado por um ataque de engenharia social altamente sofisticado. O incidente ressalta a necessidade de uma infraestrutura de carteira mais inteligente e ferramentas proativas de detecção de fraudes.
Embora as carteiras móveis continuem sendo a opção mais popular — com 51% dos usuários preferindo-as — esse número caiu ligeiramente em relação aos 54,8% do ano passado. Enquanto isso, as carteiras de hardware estão ganhando força, aumentando para 10% o uso, ante apenas 7% no ano anterior. Essa mudança sugere um interesse crescente em soluções de armazenamento a frio entre usuários mais experientes.
No entanto, a adoção permanece baixa entre os recém-chegados: apenas 3% dos novos investidores relataram usar uma carteira de hardware, indicando barreiras contínuas na integração e na educação.
Um ponto positivo na adoção de carteiras é o aumento das carteiras sociais — carteiras vinculadas a endereços de e-mail ou contas de redes sociais que eliminam a necessidade de frases-chave complexas. Essas carteiras simplificaram a integração e são pioneiras em inovações como autenticação por senha e abstração de gás (eliminando a necessidade de os usuários manterem tokens nativos de blockchain para taxas de transação).
Derek Rein, CTO da Reown, acredita que esse tipo de design de carteira é fundamental para atrair o próximo bilhão de usuários para o mundo das criptomoedas.
“Fundamentalmente, elas priorizam um design simples e fácil — os usuários não deveriam precisar entender sobre tokens de gás ou troca de cadeia apenas para realizar transações.”
Apesar de sua promessa, as carteiras sociais não conquistaram totalmente a confiança dos usuários. 39% dos entrevistados disseram que estariam mais propensos a adotar carteiras sociais se a segurança e a transparência fossem significativamente aprimoradas.
À medida que o setor continua a lidar com experiências fragmentadas e obstáculos técnicos, IA, melhor UX e novos paradigmas de carteira podem ser a chave para finalmente tornar as criptomoedas utilizáveis por todos… não apenas pelos entendidos de tecnologia.
