A aprovação e a rápida adoção de fundos negociados em bolsa (ETFs) de Bitcoin spot desde janeiro de 2024 estão remodelando a forma como as pessoas detêm e interagem com Bitcoin. Dados on-chain de plataformas como a Glassnode indicam que a criação de novas carteiras de Bitcoin — um proxy para autocustódia — desacelerou significativamente.
Os endereços ativos usados na rede caíram de cerca de um milhão em janeiro de 2024 para aproximadamente 650.000 no final de junho de 2025, níveis não vistos desde 2019. O analista Willy Woo, destacou no X (antigo Twitter), que a taxa de crescimento de usuários de autocustódia tem diminuído visivelmente desde que os ETFs chegaram ao mercado.
Essa mudança representa mais do que uma tendência técnica; sinaliza uma mudança cultural em direção à custódia institucional. A disponibilidade de produtos de ETFs de gigantes do setor como BlackRock, Fidelity e Grayscale permite que os investidores obtenham exposição regulamentada ao Bitcoin sem precisar lidar com chaves privadas ou navegar em corretoras de criptomoedas. Esses fundos oferecem eficiência tributária, armazenamento a frio seguro e a familiaridade das interfaces tradicionais de corretagem.

Um usuário do X observou:
“ETFs não roubaram usuários de armazenamentos a frio… Eles abriram o mercado para aqueles que estavam presos atrás de barreiras de conformidade.”
Em outras palavras, esses veículos não estão necessariamente substituindo os autocustodiantes atuais, mas sim permitindo a participação daqueles anteriormente excluídos.
ETFs de Bitcoin spot geraram entradas massivas. Nos primeiros 18 meses, esses ETFs arrecadaram cerca de US$50 bilhões, com o iShares Bitcoin Trust (IBIT) da BlackRock sozinho atraindo US$53 bilhões. Em 18 de julho de 2025, o IBIT havia atingido US$83 bilhões em ativos sob gestão e detinha mais de 700.000 BTC — cerca de 100.000 a mais que o fundo FBTC da Fidelity.
O analista da Bloomberg, Eric Balchunas, observou que o IBIT se tornou o ETF mais rápido da história a atingir US$80 bilhões, alcançando o feito em apenas 374 dias — um ritmo muito mais acelerado do que os 1.814 dias que o VOO da Vanguard levou para atingir o mesmo marco.
O boom dos ETFs anda de mãos dadas com o aumento do engajamento institucional. A adoção de títulos do Tesouro de Bitcoin por empresas de capital aberto disparou: ao final do segundo trimestre de 2025, 125 empresas de capital aberto detinham BTC — um aumento de 58% em relação ao trimestre anterior. Ao todo, mais de 250 organizações — incluindo empresas, ETFs, fundos de pensão e veículos privados — agora possuem Bitcoin em seus balanços patrimoniais.
Essa mudança institucional contrasta fortemente com o ethos original do Bitcoin, concebido por Satoshi Nakamoto, que enfatizava a soberania financeira individual e a autocustódia. Muitos defensores alertam que ceder o controle a instituições prejudica a descentralização. Outros, ainda, argumentam que os ETFs democratizam o acesso: produtos regulamentados e em conformidade abrem portas para investidores que não podem ou não querem se autocustodiar.
A custódia institucional por meio de ETFs ou participações em tesouraria oferece benefícios práticos — conformidade regulatória, segurança e integração aos sistemas financeiros tradicionais. No entanto, também distancia os detentores de Bitcoin da participação direta no protocolo e da responsabilidade de gerenciar chaves privadas.
Ainda assim, a tendência em direção ao Bitcoin institucional continua. Um relatório de janeiro de 2025 observou que os ETFs de BTC se destacam por sua acessibilidade e segurança em comparação com instrumentos baseados em futuros, creditando os ETFs por facilitarem os investimentos em criptomoedas para compradores de varejo.
Ao mesmo tempo, a autocustódia permanece forte entre usuários tecnicamente sofisticados ou ideologicamente motivados. Mas o declínio no crescimento — marcado pelo fim de uma tendência ascendente de 15 anos na criação de novos endereços — ressalta uma mudança mais ampla na preferência dos investidores.
Essa evolução reflete tanto a maturação do Bitcoin como ativo financeiro quanto a integração mais ampla das criptomoedas às finanças tradicionais. À medida que a adoção de ETFs dispara — em meio a novas categorias de produtos, estratégias baseadas em índices e demanda institucional — o Bitcoin está evoluindo de uma reserva de valor marginal e autocustódia para uma classe de investimento convencional.
A questão que as comunidades agora enfrentam é se o Bitcoin conseguirá manter seu espírito descentralizado mesmo enquanto se integra à infraestrutura convencional. Conveniência e participação institucional oferecem vantagens convincentes, mas a promessa original do Bitcoin de controle pessoal e acesso sem necessidade de permissão pode ser cada vez mais reservada para aqueles dispostos a trocarem facilidade por soberania.