O cofundador da Solana, Anatoly Yakovenko, recentemente gerou polêmica ao desqualificar memecoins e tokens não fungíveis (NFTs) como “lixo digital”, uma observação que contradiz o papel substancial que esses ativos desempenham na geração de receita na blockchain Solana.
A declaração de Yakovenko, publicada no X (antigo Twitter), comparou esses criptoativos a loot boxes em jogos mobile gratuitos, destacando seu ceticismo de longa data sobre seu valor.
O comentário ocorreu em meio a uma discussão acalorada com Jesse Pollak, criador da blockchain Base, sobre se memecoins e NFTs possuem valor fundamental ou se seu valor é puramente especulativo. Enquanto Pollak argumentava que o conteúdo criativo por trás dos NFTs carrega valor intrínseco — semelhante à arte tradicional que permanece valiosa independentemente das transações comerciais — Yakovenko sustentou que seu valor advém exclusivamente da dinâmica do mercado e da especulação de preços.
“Eu digo isso há anos. Memecoins e NFTs são lixo digital e não têm valor intrínseco.”
Apesar de sua postura desdenhosa, Yakovenko admitiu que as memecoins foram cruciais para o crescimento do ecossistema Solana. No entanto, ele comparou seu impacto financeiro aos lucros da Apple com loot boxes — microtransações em jogos que foram criticadas por explorar os jogadores com recompensas incertas. Essas loot boxes, disponíveis em muitos jogos gratuitos, atraíram a atenção regulatória internacionalmente, inclusive em países como Austrália e Alemanha, devido a preocupações com a proteção do consumidor e a transparência.
A visão crítica sobre memecoins e NFTs não é nova: Yakovenko tem expressado opiniões semelhantes pelo menos desde o início de 2024. No entanto, o momento de suas últimas declarações reacendeu os debates na comunidade criptográfica. Muitos questionaram o que consideram uma desconexão entre o menosprezo de Yakovenko pelas memecoins e o fato de que esses tokens contribuem fortemente para a atividade econômica de Solana.
Por exemplo, o comentarista de criptomoedas ‘Caps’ acusou Yakovenko de desrespeitar a base de usuários que apoia o ecossistema da Solana, enquanto outro usuário, ‘Karbon’, contrastou a abordagem de Yakovenko desfavoravelmente com a do cofundador da Ethereum, Vitalik Buterin, sugerindo que a atitude de Yakovenko é mais desagradável devido à sua promoção contínua de memecoins, apesar de considerá-las inúteis.
Dados da Syndica, provedora de infraestrutura da Solana, mostram que a atividade relacionada a memecoins representou notáveis 62% da receita do aplicativo descentralizado em junho de 2025. Este número marca um recorde histórico e ressalta como as memecoins dominam os fluxos financeiros da rede. Somente no primeiro semestre de 2025, a negociação de memecoins e serviços associados gerou aproximadamente US$1,6 bilhão para a Solana, revelando seu papel descomunal na saúde econômica do ecossistema.
Grande parte dessa receita foi canalizada por meio de plataformas específicas da Solana, como a Pump.fun, uma plataforma de lançamento de memecoins, e a PumpSwap, um agregador de exchanges descentralizado que oferece suporte a tokens lançados via Pump.fun. Essas plataformas foram fundamentais para impulsionar a liquidez das memecoins e o engajamento dos usuários na Solana. No entanto, o domínio da Pump.fun agora é desafiado pela LetBonk, uma concorrente mais recente que ocasionalmente ultrapassou a Pump.fun em receita de 24 horas, sinalizando um mercado de memecoins vibrante e competitivo dentro do ecossistema da Solana.
A abordagem de Yakovenko sobre memecoins e NFTs como carentes de valor fundamental destaca uma tensão contínua nos círculos criptográficos: a divisão entre ver esses tokens como “colecionáveis digitais” especulativos e vê-los como ativos digitais valiosos ou marcadores comunitários. Enquanto muitos críticos se concentram nos riscos de hype, especulação e potencial manipulação, os defensores enfatizam as inovações culturais, financeiras e tecnológicas que esses ativos representam.
