O Japão emergiu discretamente como uma força dominante no ressurgente mercado asiático de criptomoedas, impulsionado por uma mudança calculada e impactante na política nacional. De acordo com dados recentes divulgados pela Chainalysis, o país mais que dobrou sua taxa de adoção de ativos digitais no último ano. Nos doze meses anteriores a junho, o valor das criptomoedas recebidas on-chain no Japão disparou em impressionantes 120%, tornando-se o principal mercado de maior crescimento na região da Ásia-Pacífico.
Essa aceleração significativa reflete tanto o entusiasmo do mercado global quanto uma iniciativa decisiva dos reguladores japoneses para alinhar o setor de ativos digitais mais estreitamente com as finanças tradicionais. Chengyi Ong, chefe de política da Chainalysis para a região APAC, observou:
“Embora a atividade japonesa tenha refletido as tendências globais — incluindo um forte aumento nos volumes de negociação após a eleição presidencial dos EUA no quarto trimestre de 2024 — o mercado agora está pronto para um crescimento sustentado, impulsionado pelo impulso regulatório interno.”
Isso é evidenciado por relatórios de corretoras nacionais como a Bitbank, cujo diretor de desenvolvimento de negócios confirmou um crescimento anual constante no uso da plataforma, tanto por usuários novos quanto antigos.

Durante anos, o rigoroso ambiente regulatório do Japão, frequentemente caracterizado pela cautela após falhas anteriores de corretoras de alto perfil, sufocou a inovação. As restrições restringiram severamente a listagem de stablecoins em corretoras nacionais, limitando a utilidade de seu mercado de ativos digitais. No entanto, isso está mudando rapidamente.
Os reguladores têm se movimentado para reformar as leis de criptomoedas, buscando simplificar as regras do setor, alinhá-las ao mercado de valores mobiliários e, crucialmente, reformular políticas tributárias onerosas. O marco recente mais significativo foi a autorização da primeira stablecoin atrelada ao iene, um passo crítico que, segundo analistas, aumentará drasticamente a liquidez e a utilidade do mercado. A expectativa de um ambiente político e tributário mais favorável serviu, sem dúvida, como um forte catalisador para a retomada da atividade comercial.
A história de adoção em toda a região da Ásia-Pacífico é de crescimento massivo, construído sobre caminhos fundamentais dramaticamente divergentes. Dados da Chainalysis mostram que países como Indonésia, Coreia do Sul e Índia também viram o valor de criptomoedas recebido dobrar no mesmo período, mas esse crescimento ocorreu a partir de bases já elevadas. A região, como um todo, tem sido a que mais cresce no mundo em termos de valor recebido on-chain, com a Índia liderando o índice global de adoção.

O relatório destaca que cada país utiliza ativos digitais para resolver problemas econômicos específicos:
- Na Índia, uma parcela substancial do crescimento é impulsionada por jovens adultos que negociam para aumentar sua renda, juntamente com o uso intenso de criptomoedas para remessas pela grande diáspora indiana.
- O mercado do Vietnã é altamente maduro, com criptomoedas profundamente inseridas como infraestrutura cotidiana para poupança, jogos e remessas, em vez de serem usadas principalmente para especulação.
- O Paquistão, com sua população jovem e voltada para dispositivos móveis, utiliza stablecoins tanto como uma proteção vital contra a inflação quanto como mecanismo para pagamentos internacionais, refletindo a alta confiança em instrumentos lastreados em dólar em detrimento das moedas locais voláteis.
- A Coreia do Sul, por outro lado, negocia criptomoedas com uma intensidade que muitas vezes se assemelha à negociação no mercado de ações, uma dinâmica que novas leis estão reformulando ativamente nas principais bolsas nacionais.
Esse uso diferenciado ressalta a crescente relevância das stablecoins em toda a região. Na Coreia do Sul, os volumes de negociação de stablecoins aumentaram mais de 50% no primeiro semestre do ano, com o total de compras atingindo 59 bilhões de dólares, demonstrando uma preferência significativa por ativos lastreados em dólar. A questão futura para todos esses mercados é se a introdução de stablecoins lastreadas em ienes no Japão ou de stablecoins emitidas internamente em outros lugares pode mudar a dinâmica dominante para longe do dólar.

Essas ações demonstram uma disputa global entre nações se estabeleçam como polos de ativos digitais, reconhecendo que a clareza nas políticas é a chave para desbloquear grandes fluxos institucionais. Os mercados estarão atentos à possibilidade de a stablecoin atrelada ao iene ganhar força no Japão, potencialmente influenciando a forma como a região equilibra sua necessidade de controle financeiro soberano com a imensa utilidade oferecida por instrumentos lastreados em dólar.