O Banco Central Europeu deu um passo significativo e concreto em direção à potencial criação de um euro digital, passando da exploração teórica para a preparação prática, por meio do estabelecimento de acordos formais com um grupo seleto de provedores de tecnologia. Este desenvolvimento sinaliza uma nova fase no projeto plurianual, com foco na construção dos componentes essenciais para uma moeda digital de banco central, mesmo que a decisão final de lançamento ainda esteja dependente de legislação futura.
O BCE anunciou que finalizou acordos-quadro com 7 empresas, com pelo menos mais uma prevista para se juntar, para desenvolver aspectos críticos da infraestrutura do euro digital, incluindo prevenção de fraudes, troca segura de dados e software de aplicação voltado para o usuário.
Entre os parceiros escolhidos estão empresas especializadas em tecnologia financeira de ponta. A Feedzai, empresa conhecida por utilizar inteligência artificial para identificar e prevenir crimes financeiros, será responsável por desenvolver os recursos de gerenciamento de risco e detecção de fraudes do sistema.
A Giesecke+Devrient, gigante alemã de tecnologia de segurança com longa história em impressão de notas e sistemas de pagamento, foi contratada para uma função mais ampla, que inclui o desenvolvimento de um recurso crucial: pagamentos offline. Essa funcionalidade permitiria aos usuários realizar transações com o euro digital mesmo sem conexão à internet, espelhando a utilidade do dinheiro físico em situações de indisponibilidade de conectividade. Essas parcerias reforçam o foco na criação de uma moeda digital que seja não apenas eficiente, mas também segura e resiliente.

De acordo com uma declaração do CEO da Giesecke+Devrient, Dr. Ralf Wintergerst, as empresas vencedoras agora colaborarão estreitamente com o BCE para traçar planos e cronogramas detalhados. Esse trabalho abrangerá o design, a integração e o desenvolvimento abrangentes de toda a Plataforma de Serviços do Euro Digital, tudo conduzido sob a supervisão do Conselho do BCE e dentro dos limites da futura legislação da União Europeia.
O anúncio esclarece que esses acordos são preparatórios e não comprometem o BCE a realizar quaisquer pagamentos nesta fase. Eles são concebidos com flexibilidade inerente, permitindo que o escopo do trabalho seja ajustado à medida que o “Regulamento do Euro Digital” final toma forma. Outro componente fundamental a ser desenvolvido é um serviço de pesquisa, um recurso projetado para aumentar a privacidade e a conveniência do usuário, permitindo pagamentos entre indivíduos sem exigir que compartilhem dados bancários confidenciais.
A jornada rumo a um euro digital começou para valer em 2021 e, após uma fase de investigação de dois anos, o projeto entrou oficialmente em sua fase atual de preparação no final de 2023. Embora as autoridades tenham sido transparentes ao afirmar que a luz verde final só virá após a aprovação do arcabouço legal necessário pelos legisladores da UE, o ritmo atual de desenvolvimento sugere que um possível lançamento está sendo considerado para o final da década, com uma autoridade citando recentemente 2029 como uma possibilidade.
Essa abordagem deliberada e metódica destaca as complexidades envolvidas na introdução de uma forma digital de dinheiro público em uma economia com mais de 340 milhões de pessoas.
Essa iniciativa se desenrola em um cenário de intenso debate global sobre o futuro do dinheiro, particularmente no que diz respeito ao papel das stablecoins privadas. A abordagem europeia contrasta fortemente com os desenvolvimentos recentes nos Estados Unidos, onde os legisladores, com o apoio do poder executivo, aprovaram um projeto de lei histórico em julho para estabelecer uma estrutura regulatória clara para emissores de stablecoins.
O BCE, juntamente com outros reguladores financeiros da UE, expressou cautela significativa. A presidente do BCE, Christine Lagarde, recentemente solicitou que os legisladores abordassem especificamente os potenciais riscos sistêmicos representados por stablecoins emitidas conjuntamente por entidades dentro e fora da jurisdição da UE.