O ecossistema de ativos digitais é movido pela atividade, e um barômetro fundamental dessa atividade é a receita gerada por suas redes blockchain subjacentes. Em setembro, esse barômetro indicou um período significativo de arrefecimento. Em geral, as receitas da rede, a soma de todas as taxas pagas pelos usuários para realizar transações, tiveram uma queda de 16% em comparação com o mês anterior.
Essa desaceleração não se limitou a uma única blockchain, mas foi um fenômeno generalizado, amplamente atribuído à calmaria na volatilidade dos preços em todo o mercado, um fator crítico para as transações on-chain.
Para entender por que a receita caiu, é preciso primeiro entender sua conexão com a turbulência do mercado. Quando os preços das criptomoedas oscilam fortemente, as taxas de transação tendem a disparar. Isso é impulsionado por dois fatores principais.
Primeiro, a alta volatilidade cria oportunidades lucrativas de arbitragem, onde os traders podem lucrar com pequenas diferenças de preço entre várias exchanges. Em uma corrida para capturar esses lucros fugazes, os robôs de negociação automatizada aumentam as taxas de transação, pagando um prêmio para garantir que suas negociações sejam processadas antes de seus concorrentes.
Em segundo lugar, períodos de forte oscilação de preços, seja para cima ou para baixo, desencadeiam respostas emocionais dos traders humanos, levando a um aumento na atividade de compra ou venda que congestiona as redes e eleva o custo base das transações para todos. Setembro foi marcado pela ausência dessa turbulência. A volatilidade de grandes ativos como Bitcoin e Ether caiu 26% e 40%, respectivamente, criando um ambiente de negociação mais calmo e previsível, que ofereceu menos incentivos para atividades de alta frequência e com taxas intensivas.
Essa calmaria generalizada no mercado se refletiu nas receitas das principais plataformas de contratos inteligentes. A Ethereum, a maior rede em capitalização de mercado, viu sua receita cair 6%, enquanto a rede Solana, de alto rendimento, sofreu uma redução de 11%. A queda mais drástica, no entanto, foi observada na rede Tron, onde as receitas despencaram 37%. No entanto, a história da Tron é mais complexa do que uma simples reação do mercado. Seu declínio foi principalmente o resultado de uma decisão deliberada de governança tomada em agosto de cortar suas taxas de gás em mais da metade. Essa mudança estratégica, que visa tornar a rede ainda mais competitiva para seu principal caso de uso, ilustra que nem todas as quedas de receita sinalizam saúde negativa; algumas são ajustes intencionais no modelo econômico de uma rede.
Apesar dessa queda mensal acentuada, a rede Tron continua sendo uma potência financeira, superando consistentemente seus maiores rivais em lucros. Dados mostram que, no ano passado, a empresa gerou aproximadamente 3,6 bilhões de dólares em receita, um valor que supera o bilhão de dólares da Ethereum no mesmo período. Este é um feito impressionante, visto que a capitalização de mercado da Ethereum é mais de 16 vezes maior que a da Tron. O segredo do sucesso econômico da Tron reside em seu domínio completo e absoluto do mercado de stablecoins. A rede se tornou a camada de liquidação de fato para a Tether, a stablecoin mais usada no mundo, hospedando mais da metade de todo o seu fornecimento circulante.
Essa especialização provou ser uma estratégia incrivelmente eficaz. Enquanto outras redes competem pelo domínio nos setores de finanças descentralizadas e NFT, a Tron se concentra em fornecer uma plataforma rápida, barata e confiável para movimentar ativos atrelados ao dólar ao redor do mundo. Isso a tornou a rede preferida para tudo, desde arbitragem entre bolsas até remessas internacionais, especialmente em mercados emergentes.
O próprio setor de stablecoins é um pilar da economia digital, com seu valor total de mercado excedendo 292 bilhões de dólares e continuando a crescer de forma constante. Esses ativos representam um caso de uso fundamental para a tecnologia blockchain, permitindo que moedas fiduciárias tradicionais se movam em trilhos digitais modernos e eficientes que operam 24 horas por dia, 7 dias por semana, sem a necessidade de infraestrutura bancária tradicional.
