Uma importante corretora de criptomoedas americana emitiu uma recomendação formal ao governo dos EUA, transmitindo uma mensagem clara: para combater eficazmente os crimes financeiros na era digital, as autoridades policiais devem adotar as mesmas tecnologias que impulsionam o setor de criptomoedas. Essa resposta foi dada como parte de uma consulta pública do Departamento do Tesouro dos EUA, que busca métodos inovadores para coibir atividades ilícitas no espaço de ativos digitais, uma exigência prevista na Lei GENIUS, recentemente aprovada.
A carta da COINBASE, escrita por seu diretor jurídico, Paul Grewal, argumenta que a estrutura atual de vigilância financeira, baseada em grande parte na Lei de Sigilo Bancário — que data de décadas — está desatualizada e mal equipada para lidar com os métodos sofisticados dos criminosos modernos. O principal argumento de Grewal é que, à medida que os agentes ilícitos adotam tecnologias avançadas, os formuladores de políticas e as agências de aplicação da lei devem fazer o mesmo. Ele insiste que a análise de blockchain, a inteligência artificial e outras ferramentas emergentes são a solução, e não o problema, e que sua adoção apoiaria os principais objetivos de modernização da Lei de Combate à Lavagem de Dinheiro de 2020.
O chefe de políticas da COINBASE, Faryar Shirzad, reforçou essa posição, argumentando que o governo dos EUA deveria aprender com o próprio setor de criptomoedas e abraçar a inovação usando “ferramentas digitais comprovadas, como IA, APIs, IDs digitais e análise de blockchain”.

A apresentação continha várias recomendações específicas e voltadas para o futuro. A mais significativa é um apelo para que o Tesouro crie um “porto seguro” regulatório para instituições financeiras que implementem sistemas avançados baseados em IA e Interface de Programação de Aplicativos (API) em seus programas de combate à lavagem de dinheiro. Grewal explicou que muitas empresas atualmente hesitam em aproveitar totalmente o poder da IA para fins de conformidade devido à falta de clareza regulatória. Um modelo “tamanho único para todos”, argumentou ele, é contraproducente. Em vez disso, o governo deve criar regras que se concentrem na governança e, principalmente, nos resultados, dando às empresas a flexibilidade para inovar, desde que seus novos sistemas sejam eficazes na identificação de criminosos.

Esse apelo por clareza regulatória se estendeu a outras tecnologias de próxima geração. Grewal instou o Tesouro a publicar diretrizes oficiais que reconheçam e, quando apropriado, incentivem o uso de identificadores descentralizados e provas de conhecimento zero como métodos válidos para verificação de clientes. Isso representaria uma mudança significativa em relação à verificação de identidade tradicional, que se baseia na coleta e armazenamento de vastos e vulneráveis bancos de dados de informações pessoais, e em direção a um modelo mais privado e criptograficamente seguro.
A carta também solicitava orientações formais sobre o uso de ferramentas de análise de blockchain, especificamente as técnicas de “agrupamento” usadas para rastrear fundos ilícitos, a fim de garantir a conformidade com as normas de combate à lavagem de dinheiro. Grewal enfatizou que quaisquer novas regras devem incentivar o compartilhamento de informações relacionadas a atividades ilícitas encontradas em blockchains públicas, mas devem ter o cuidado de não “impor obrigações excessivas de manutenção de registros a todos os envolvidos em uma transação de blockchain”, uma referência aos desenvolvedores de carteiras digitais não custodiais e outros softwares.
Toda essa iniciativa do Departamento do Tesouro, cujo período de consulta pública se encerrou na semana passada, faz parte do esforço do governo para construir uma estrutura regulatória para a Lei GENIUS. A resposta da COINBASE representa uma das duas visões concorrentes sobre como fiscalizar o novo cenário financeiro.
Uma abordagem completamente diferente foi proposta por Jim Harper, pesquisador sênior do AMERICAN ENTERPRISE INSTITUTE, um think tank de políticas públicas. Harper, com base em seus recentes artigos acadêmicos, argumenta que toda a premissa da Lei de Sigilo Bancário é um fracasso caro e invasivo. Ele afirma que:
“O regime atual, que força as instituições financeiras a realizar vigilância financeira ampla e dispendiosa sobre todos os seus clientes na esperança de capturar alguns criminosos, é ineficaz e constitucionalmente questionável”.
Em vez de modernizar esse sistema de vigilância em massa com inteligência artificial, como sugere a COINBASE, Harper propõe desmantelá-lo. Em seu lugar, ele defende um novo sistema de comunicação direcionado, onde as agências de aplicação da lei, munidas de um mandado ou intimação apropriada, possam consultar diretamente as empresas de criptomoedas para fins específicos de investigação. Isso, argumenta ele, manteria as capacidades das autoridades policiais, eliminando a necessidade de uma rede de vigilância que trata cada cidadão como suspeito.
