A recente volatilidade do Bitcoin provocou um tremor no mercado de criptomoedas, forçando os investidores a confrontarem uma questão difícil: o ciclo de alta chegou ao fim ou trata-se simplesmente de uma correção acentuada antes da próxima alta? Recentemente, o preço do Bitcoin caiu abaixo da marca crítica de US$ 99.000, um limiar psicológico e técnico que serviu como um divisor de águas durante grande parte da alta do final de 2025. Essa queda levou o ativo abaixo de sua média móvel de 365 dias, um indicador de tendência de longo prazo que muitos analistas institucionais consideram o limite definitivo entre uma tendência de alta saudável e um mercado de baixa prolongado.
A quebra desse indicador acendeu um intenso debate entre os observadores do mercado. Julio Moreno, chefe de pesquisa da CRYPTOQUANT, emitiu um alerta contundente após a queda. Ele caracterizou a queda abaixo da média móvel de 365 dias como uma confirmação final de um mercado de baixa, traçando paralelos com a movimentação de preços que precedeu o inverno cripto de 2022. Para Moreno e outros analistas pessimistas, a incapacidade do Bitcoin de se manter nesse nível sugere que a estrutura de mercado se rompeu fundamentalmente. A média móvel de 365 dias não é apenas mais uma linha em um gráfico; ela representa o preço médio de entrada dos investidores no último ano. Quando o preço cai abaixo dela, o investidor médio fica no prejuízo, criando uma pressão psicológica para vender que pode desencadear uma onda de vendas.
No entanto, rotular essa queda como o início de um “inverno cripto” pode ser prematuro, segundo outros especialistas. A queda da máxima histórica de outubro, de aproximadamente US$ 126.000, para os níveis atuais representa um declínio de cerca de 20%. Embora isso se encaixe na definição clássica de um mercado de baixa técnico, o contexto é essencial. Andri Fauzan Adziima, analista de pesquisa da BITRUE, argumenta que esta é apenas a quarta grande correção do ciclo de 2025. Na visão dele, o mercado está passando por uma “limpeza de rotina” de alavancagem excessiva, em vez de uma mudança fundamental de valor. Adziima aponta para padrões históricos em que o Bitcoin apresentou recuperações de até 40% em sessenta dias após quedas semelhantes de 20%. Se esse padrão histórico se confirmar, o medo atual pode ser um sinal contrário à tendência, indicando uma oportunidade de compra.

O campo de batalha dessa narrativa é o patamar de US$ 100.000. Durante a maior parte do ano, o Bitcoin atingir a marca de seis dígitos foi o objetivo final, um símbolo da maturação do ativo. Agora que esse patamar foi alcançado e posteriormente perdido, recuperá-lo e mantê-lo é crucial para o sentimento do mercado. Tom Cohen, chefe de investimentos da ALGOZ TECHNOLOGY, sugere que, enquanto o preço se mantiver próximo a essa zona, a tese de mercado de alta permanece viável. Ele observa que a barreira dos US$ 100.000 funciona como uma âncora psicológica. Uma quebra decisiva abaixo desse patamar — onde o preço se mantém em dois dígitos por semanas, em vez de dias — seria necessária para validar o cenário de baixa. Até lá, o mercado permanece em um estado de limbo, oscilando entre o medo de novas quedas e a esperança de uma recuperação sazonal.
Essa esperança se baseia, em grande parte, no fenômeno conhecido como “rali de Natal“. Historicamente, os mercados financeiros, incluindo as criptomoedas, têm demonstrado uma tendência a apresentar bom desempenho nas últimas semanas de dezembro. Essa anomalia é frequentemente atribuída a uma combinação de otimismo típico das festas de fim de ano, estratégias de compensação de perdas fiscais e volumes de negociação mais baixos, que permitem que compradores agressivos impulsionem os preços para cima com menos resistência. Com o ano chegando ao fim, os investidores otimistas apostam nessa sazonalidade para salvar o candle trimestral. No entanto, o potencial rali deste ano enfrenta obstáculos que não estavam presentes em ciclos anteriores.

O cenário macroeconômico continua sendo uma variável significativa. O texto destaca que os participantes do mercado estão acompanhando de perto a próxima decisão sobre a taxa de juros dos EUA em dezembro. Um corte na taxa poderia fornecer a injeção de liquidez necessária para impulsionar uma recuperação, enquanto uma pausa ou um aumento poderiam agravar o cenário. Além disso, a dimensão política não pode ser ignorada. A influência do governo do presidente Trump no sentimento do mercado tem sido palpável ao longo de 2025. Analistas como Houston Morgan observaram que o Bitcoin precisa se desvincular de anúncios políticos para encontrar uma base sustentável, mas, por enquanto, os investidores ainda reagem a cada notícia vinda de Washington.
Em última análise, o mercado está em uma encruzilhada. O dano técnico causado pela perda da média móvel de 365 dias é real e significativo. Isso sinaliza que o ímpeto estagnou e que o caminho de menor resistência se deslocou para baixo. No entanto, os fundamentos da rede e a resiliência histórica da classe de ativos sugerem que descartar a alta com base em um único indicador pode ser precipitado. Com o Bitcoin cotado em torno de US$ 101.800, ele está em uma terra de ninguém. As próximas semanas determinarão se a “limpeza de rotina” prepara o terreno para novas máximas ou se a drenagem de liquidez do final de 2025 marca o início de uma queda mais lenta e prolongada. Recomenda-se aos investidores que observem atentamente o nível de US$ 100.000; ele não é mais apenas um número, mas a linha divisória entre dois futuros muito diferentes.


