A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Apostas do Senado se prepara para uma votação crítica para avaliar 97 pedidos que podem levar à quebra de sigilo bancário e fiscal para a maioria das empresas de apostas virtuais autorizadas pelo governo federal (Bets). Essas empresas estão sob escrutínio como parte dos esforços contínuos para regulamentar o crescente setor de apostas online.
Os pedidos foram apresentados pelo senador Marcos Rogério (PL-RO) em dezembro de 2024, buscando informações financeiras abrangentes sobre Bets que operam no Brasil.
As propostas têm como alvo 71 das 78 entidades de apostas registradas e reconhecidas pela Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA), um departamento do Ministério da Fazenda responsável por supervisionar as regulamentações de apostas. Isso marca um passo significativo no esforço contínuo para regulamentar o setor de apostas, que iniciou oficialmente suas operações em janeiro de 2024.
Entre os pontos-chave dessas solicitações está um chamado para que o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) forneça à CPI relatórios de inteligência financeira (RIFs). Esses relatórios cobririam o período de 1º de janeiro de 2020 a 10 de dezembro de 2024 e visam fornecer dados financeiros detalhados sobre as operações das empresas de apostas, ajudando a expor potenciais irregularidades ou atividades ilícitas.
A comissão também deve considerar outras 11 solicitações relacionadas ao setor, incluindo intimações de testemunhas de importantes agências governamentais como o Banco Central e a Polícia Federal.
Além disso, representantes de Bets de apostas conhecidas, como Betano e Bet7k, juntamente com instituições de pagamento como Pixtopay, foram chamados para depor. A presença deles será obrigatória, refletindo a seriedade da investigação sobre o setor.
Antes da votação, a comissão ouvirá Robinson Sakiyama Barreirinhas, Secretário Especial da Receita Federal do Brasil (RFB). Barreirinhas foi convidado para fornecer insights especializados sobre as atividades financeiras do setor, especialmente em relação à tributação e regulamentação das operações de apostas. Sua contribuição é crucial, pois há uma preocupação contínua sobre a clareza das regras de tributação para ganhos e o potencial de evasão fiscal.
Uma questão fundamental levantada pela comissão é a falta de clareza regulatória em relação à tributação de ganhos de apostas. O senador Izalci Lucas (PL-DF), que autorizou a intimação para Barreirinhas, expressou preocupações de que a ausência de regras claras deixa uma lacuna no processo de tributação, potencialmente permitindo a evasão fiscal.
Essa questão foi ainda mais enfatizada em um documento enviado, que destacou que a Receita Federal está preocupada que essa falta de clareza possa levar a uma perda significativa de receita para o governo.
O documento aponta que as leis atuais não definem explicitamente como os prêmios de apostas devem ser tributados, criando confusão que pode dificultar a arrecadação eficiente de impostos. Acredita-se que essa ambiguidade regulatória promova um ambiente propício à evasão fiscal, minando a potencial receita tributária do governo com o crescente setor de apostas.
As investigações em andamento são uma continuação dos esforços que começaram com a CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas em setembro de 2024. A discussão sobre tributação é apenas uma parte de um exame mais amplo dos aspectos legais e ilegais da indústria de apostas, que teve um aumento dramático nos últimos anos.
No final de fevereiro de 2024, um relatório lançou luz sobre uma preocupação séria: algumas das empresas autorizadas pelo Banco Central estavam supostamente permitindo pagamentos para apostas ilegais, incluindo atividades relacionadas ao controverso “jogo do tigrinho”. Este relatório adicionou lenha na fogueira em torno da regulamentação da indústria de apostas, intensificando ainda mais os apelos por maior transparência e supervisão.
O tamanho do mercado de apostas no Brasil é significativo, com números revelando que o volume de dinheiro gasto em apostas nacionais ultrapassou até mesmo o de investimentos em criptomoedas.
A atividade de apostas é agora 3,5 vezes maior do que o mercado de criptomoedas no Brasil, destacando a rápida expansão do setor. Esse crescimento, combinado com preocupações sobre atividades ilegais de apostas e regulamentação insuficiente, torna a investigação da CPI mais crítica do que nunca.
As medidas propostas, incluindo a potencial quebra de sigilo bancário e fiscal para empresas de apostas autorizadas, podem levar a mudanças significativas na forma como a indústria opera no país.
Se aprovadas, essas medidas podem ajudar a esclarecer a tributação dos ganhos em apostas, expor atividades ilegais e criar uma estrutura mais transparente para a indústria.