Os observadores de dados mais fervorosos do Bitcoin gostam de discutir sobre metas de preço. Willy Woo foi além. No palco da conferência Baltic Honeybadger, exclusiva para Bitcoin, ele chamou o Bitcoin de “o ativo perfeito para os próximos mil anos” — e imediatamente qualificou a afirmação: ele não desafiará o dólar americano ou o ouro, a menos que muito mais capital influencie.
Seu argumento é matemática simples. O valor de rede do Bitcoin oscilou em torno da faixa de US$2 trilhões em agosto de 2025; isso ainda representa apenas uma fatia do valor de mercado estimado do ouro, de aproximadamente US$22 a 23 trilhões, e muito abaixo do estoque de moeda em dólar. Se o Bitcoin quiser entrar nesse patamar, precisa de entradas grandes e sustentadas.
A comparação enquadra todo o debate. Em dólares, a ampla oferta monetária (M2) gira em torno de US$22 trilhões, uma aproximação aproximada do cenário monetário que o Bitcoin teria que rivalizar se aspirasse ao status de ativo de reserva. Enquanto isso, a capitalização de mercado do ouro — calculada a partir de ações acima do solo multiplicadas pelo preço à vista — se agrupa perto da casa dos US$20 trilhões, dependendo da previsão de preço e das premissas de tonelagem utilizadas. Diante disso, o Bitcoin perto de US$2,3 trilhões parece significativo, mas ainda não é comparável.
A provocação é que o “design perfeito” (oferta fixa, portabilidade, auditabilidade) não é suficiente; escala é o ingrediente que falta.
O que poderia desacelerar essa marcha rumo à escala? Woo sinalizou duas vulnerabilidades. Primeiro, a tendência de “Bitcoin no balanço patrimonial” pode trazer alavancagem oculta. Alguns investidores em títulos do Tesouro podem estar financiando moedas com estruturas de dívida opacas — tudo bem enquanto os preços sobem, desestabilizando se o ciclo mudar. Se ocorrer uma queda acentuada, vendedores forçados podem vomitar moedas de volta ao mercado. Essa dinâmica é familiar de bolhas anteriores e não é exclusiva do Bitcoin, mas o alerta é oportuno, considerando a corrida de 2025.
Em segundo lugar, a forma como as instituições estão optando por obter exposição concentra grande parte do Bitcoin em alguns pontos de estrangulamento de custódia. Desde que a SEC aprovou ETFs de Bitcoin em janeiro de 2024, os ETFs se tornaram a principal via de acesso para fundos de pensão, consultores e empresas que querem o ativo sem o aumento operacional. A maioria desses produtos custodia moedas com um punhado de grandes provedores — principalmente a Coinbase Custody — por natureza.
Essa conveniência vem com uma compensação de centralização: quanto mais moedas ficam sob custódia regulamentada, mais elas ficam ao alcance do poder estatal. Woo comentou:
“É como um puxão de tapete entre o estado-nação. Você não precisa concordar para ver os fatos da concentração.”
A Coinbase declarou publicamente que venceu 8 dos primeiros 11 mandatos de ETF, rastreadores terceirizados contam 9 dos 12 que usam a exchange, e até mesmo a Reuters — escrevendo sobre novos participantes como o Citi — considera a Coinbase líder de mercado com mais de 80% de participação na custódia de ETFs atualmente.
A onda institucional é real. Os fundos de pensão estatais começaram a divulgar participações em ETFs, e gestores de ativos de primeira linha agora comercializam exposição ao Bitcoin para contas de aposentadoria tradicionais. À medida que os pipelines de alocação se abrem, o capital aumenta; mas as moedas geralmente permanecem sob as chaves da empresa fiduciária, não do investidor final. Esse é o paradoxo da adoção que Woo destacou:
“As bolsas de dinheiro chegam por meio de ETFs e custodiantes, não por meio da autocustódia.”
Adam Back, CEO da Blockstream, adotou uma perspectiva mais voltada para finanças corporativas. Ele disse que as empresas deveriam usar o retorno esperado do Bitcoin como uma taxa de referência: se a administração não consegue superá-la, elas deveriam parar de fingir e comprar Bitcoin.
“Isso não exige se tornar uma “jogada pura”; significa administrar o negócio principal e manter um ativo que historicamente se acumula mais rápido do que a maioria dos projetos. Quer você considere isso um exagero ou uma disciplina, é um teste claro que os CEOs não podem ignorar se as moedas continuarem se valorizando.”
Nada disso nega a afirmação inicial de Woo sobre design. O Bitcoin foi projetado para o longo prazo: um fornecimento com limite rígido, um livro-razão transparente, finalidade de liquidação e a capacidade de autocustódia de valor de uma forma que seja difícil de confiscar. Essas características parecem perfeitas se o seu parâmetro for a durabilidade ao longo de regimes e séculos. Mas design sem distribuição não destronará os titulares. Para chegar lá a partir daqui, três coisas práticas precisam acontecer.
Primeiro, o capital precisa continuar chegando — e em quantidade. Fluxos de ETFs, mandatos de pensão e tesourarias corporativas estão fazendo um trabalho pesado, ventos macroeconômicos favoráveis (como o crescimento da oferta de moeda e o ouro a preços recordes) mantêm a história dos “ativos tangíveis” em destaque. Mas os fluxos de entrada precisam ser duradouros, não apenas perseguir uma manchete.
Em segundo lugar, o ecossistema deve evitar explosões de alavancagem. A transparência sobre como as empresas de capital aberto financiam seu Bitcoin e como os títulos do Tesouro marcam o risco será mais importante no próximo mercado de baixa do que neste mercado de alta. Os investidores devem questionar os covenants de dívida e as reservas de liquidez da mesma forma que fariam com qualquer produtor de commodities ou balanço patrimonial exposto ao câmbio. A cautela de Woo aqui ecoa lições de ciclos anteriores.
Em terceiro lugar, a gestão de chaves precisa se descentralizar à medida que a escala cresce. Os ETFs são uma ponte; eles não devem se tornar um fosso permanente em torno do ativo. O objetivo final é a ampla competência com autocustódia — por instituições (orientadas por políticas, auditáveis), por empresas operacionais (fluxos de trabalho de gestão de caixa) e por indivíduos (configurações seguras e recuperáveis).