O Brasil reformulou radicalmente sua política tributária para criptomoedas. A partir de junho de 2025, por meio da Medida Provisória (MP) 1.303, o governo eliminou a isenção mensal de longa data para pequenos traders de criptomoedas. A partir de agora, todos os ganhos de capital com criptomoedas, independentemente do valor da transação, serão tributados à alíquota fixa de 17,5%.
Anteriormente, investidores pessoas físicas no Brasil se beneficiavam de uma isenção mensal para vendas de criptomoedas abaixo de R$35.000 (cerca de US$6.300). Quaisquer ganhos acima desse limite estavam sujeitos a alíquotas progressivas de 15% a 22,5%, dependendo do volume de negociação — com pico em transações acima de R$30 milhões.
Com a nova medida, essa isenção foi removida e o imposto fixo de 17,5% sobre ganhos de capital se aplica a todos os lucros, aumentando efetivamente os impostos sobre pequenos investidores e aliviando a carga sobre traders de alto volume.
As novas regras se aplicam universalmente a criptoativos mantidos em carteiras de autocustódia e contas offshore, fechando efetivamente brechas anteriores usadas para evitar a tributação.

As autuações ocorrerão trimestralmente, e os investidores podem compensar perdas incorridas nos cinco trimestres anteriores. A partir de janeiro de 2026, a elegibilidade para compensação de perdas será mais restritiva.
A MP1.303 não se limita às criptomoedas; ela recalibra a política tributária em diversos setores financeiros. Instrumentos de renda fixa, como Letras de Crédito Imobiliário (LCI), Agronegócio (LCA), CRI e CRA — anteriormente isentos — agora terão um imposto de 5% sobre os lucros.
Da mesma forma, a alíquota de imposto sobre a receita das operadoras de jogos de azar passará de 12% para 18%, enquanto os juros sobre o capital próprio (JRS) aumentarão de 15% para 20% e a CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro) será padronizada.
Essas reformas seguem o plano arquivado de aumentar o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), que enfrentou forte resistência política.
Pequenos investidores agora perdem a isenção, enfrentando novas obrigações tributárias sobre ganhos abaixo de R$35.000 mensais.
Pessoas físicas com alto patrimônio líquido e traders de grande volume podem pagar menos. Pelas regras anteriores, ganhos acima de R$5 milhões eram de 17,5% a 22,5%; agora, eles pagam uma taxa uniforme de 17,5%. Plataformas de varejo e exchanges estão revisando os procedimentos de conformidade para atender a requisitos mais amplos de relatórios.
Grupos e plataformas de defesa de criptomoedas levantaram preocupações. O Mercado Bitcoin criticou a medida por ter sido implementada às pressas, sem o engajamento das partes interessadas, argumentando que isso poderia prejudicar a competitividade do Brasil nos mercados globais de criptomoedas. A Associação Brasileira de Criptoeconomia e Fintechs (ABCN) ecoou esses sentimentos, alertando que os impostos poderiam levar investidores a migrar para o exterior.
Alguns legisladores tentaram reverter a medida. O deputado Gustavo Gayer impetrou decreto com o objetivo de anular a medida, alegando que ela extrapola a competência executiva e compromete a segurança jurídica. Segundo relatos, a Câmara dos Deputados adiou a aprovação da MP 1.303, aguardando novas emendas e comprovação de responsabilidade fiscal.
O governo espera que o endurecimento das políticas tributárias para criptomoedas, renda fixa e apostas gere uma receita adicional estimada em R$40 bilhões (≈US$7 bilhões) anualmente.
No entanto, críticos argumentam que a norma pode sufocar a adoção popular e concentrar a atividade de criptomoedas entre players institucionais mais ricos.
Os impostos trimestrais vencem após os ganhos do segundo trimestre de 2025, embora os mecanismos de execução ainda estejam sendo esclarecidos. A partir de janeiro de 2026, as limitações de compensação de perdas serão mais rígidas, afetando as estratégias dos investidores.