A agência de proteção de dados do Brasil, a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANDP), manteve sua decisão de restringir a compensação de criptomoeda vinculada ao projeto World ID, citando preocupações sobre a privacidade do usuário. Em um anúncio recente, a ANDP rejeitou uma solicitação do desenvolvedor do World ID, Tools For Humanity, para revisar a proibição de oferecer recompensas financeiras a usuários que fornecem dados biométricos por meio de escaneamentos de íris.
A ANDP declarou que continuaria a suspender qualquer forma de compensação financeira, incluindo criptomoeda (especificamente Worldcoin, ou WLD), para contas World ID criadas pela coleta de escaneamentos de íris no Brasil. A empresa agora enfrenta uma multa diária de 50.000 reais brasileiros (aproximadamente US$8.800) se prosseguir com quaisquer outras atividades de coleta de dados no país.

Esta decisão segue uma investigação que começou em novembro de 2023, motivada por preocupações de que fornecer incentivos financeiros para dados biométricos poderia prejudicar a capacidade dos usuários de tomar uma decisão informada sobre o consentimento.
O sistema “World ID”, que foi originalmente lançado pela Worldcoin (agora renomeada como World), envolve usuários enviando escaneamentos de íris para criar um passaporte digital exclusivo. Essa identidade digital pode então ser usada para autenticar indivíduos online, visando abordar os crescentes desafios de bots online, deepfakes gerados por IA e ataques Sybil, que contribuíram para a erosão da confiança em plataformas digitais.
A iniciativa da World ID enfrentou um revés significativo no Brasil quando, em janeiro de 2024, a empresa foi ordenada a interromper os serviços no país. Apesar dessa proibição, sistemas de identificação digital como a World ID estão ganhando força em outros mercados globais. A prevalência crescente de bots e o uso de IA generativa para criar identidades falsas tornaram a identificação digital uma questão mais urgente.
Uma pesquisa da empresa de análise de blockchain, Chainalysis, mostrou que os golpes baseados em IA estão se tornando mais lucrativos, com identidades falsas sendo mais fáceis de produzir do que nunca.
Em resposta à crescente demanda por soluções de identidade digital, algumas empresas estão se concentrando em alternativas que não envolvem coleta de dados biométricos. Por exemplo, no início deste ano, a Billions Network lançou sua própria plataforma de identidade digital baseada em tecnologia de verificação de conhecimento zero, que não requer informações biométricas. Esta plataforma, que usa a tecnologia Circom, já passou por testes com grandes instituições financeiras, como HSBC e Deutsche Bank.
Enquanto o projeto World ID continua a enfrentar obstáculos regulatórios no Brasil, a mudança global em direção à identificação digital e soluções focadas em privacidade parece pronta para crescer. À medida que as preocupações sobre a segurança e a ética do uso de dados biométricos aumentam, métodos alternativos que priorizam a privacidade do usuário e cumprem com as regulamentações em evolução podem se tornar um padrão na economia digital.
A decisão da ANDP ressalta a importância de equilibrar a inovação em sistemas de identidade digital com a proteção da privacidade do usuário. À medida que as tecnologias de IA e blockchain continuam a evoluir, será crucial para as empresas navegarem no complexo cenário regulatório para evitar multas e garantir que não estejam infringindo os direitos do usuário. O caso da World ID destaca o debate mais amplo sobre como proteger identidades digitais em um mundo cada vez mais interconectado, onde as preocupações com a privacidade estão se tornando cada vez mais significativas.