O interesse global por stablecoins não atreladas ao dólar americano está aumentando, refletindo um desejo mais amplo entre governos e instituições financeiras de afirmar a soberania monetária e reduzir a dependência do cenário de ativos digitais dominado pelo dólar.
Essa tendência foi destacada por Dea Markova, diretora de políticas da Fireblocks, durante a conferência Token2049 em Dubai, onde ela observou que a pressão por stablecoins não atreladas ao dólar é motivada por preocupações com a autonomia nacional e a estabilidade financeira.
Markova comparou a situação atual às tensões passadas entre governos e gigantes de pagamento dos EUA, como Visa e Mastercard, enfatizando que o surgimento das stablecoins representa uma nova fronteira para as preocupações com a soberania. Ela destacou:
“As stablecoins atreladas ao dólar que operam na União Europeia já enfrentam desafios significativos dos bancos centrais, apesar de serem compatíveis e regulamentadas. O Banco Central Europeu, por exemplo, está acelerando o desenvolvimento de um euro digital devido a preocupações com o impacto sistêmico das stablecoins atreladas ao dólar na zona do euro.”
Um relatório divulgado pelo Banco da Itália destacou que a dependência de stablecoins atreladas ao dólar em títulos do Tesouro dos EUA poderia aumentar as vulnerabilidades de risco sistêmico. Essa preocupação é reforçada pela predominância de stablecoins atreladas ao dólar no mercado, com o USDT da Tether e o USDC da Circle representando um total de US$210,9 bilhões, ou 87,2%, do total de US$241,8 bilhões em capitalização de mercado de stablecoins.

Em contraste, os Emirados Árabes Unidos, estão adotando uma abordagem mais progressiva em relação à regulamentação de stablecoins. Markova elogiou Abu Dhabi por sua visão regulatória, observando que o emirado não exige que os emissores de stablecoins sejam domiciliados ou licenciados localmente. Em vez disso, Abu Dhabi realiza a due diligence em stablecoins globais e decide se as exchanges locais podem oferecê-las, proporcionando às empresas locais acesso à liquidez e aos pagamentos globais.
Essa abordagem levou a desenvolvimentos significativos no cenário de stablecoins dos Emirados Árabes Unidos. Em dezembro de 2024, o USDT da Tether foi aprovado como um ativo virtual reconhecido em Abu Dhabi, permitindo que provedores de serviços financeiros licenciados no Mercado Global de Abu Dhabi ofereçam serviços relacionados ao USDT.
Após isso, a Circle recebeu aprovação regulatória para o USDC. Além disso, instituições de Abu Dhabi estão colaborando no lançamento de uma stablecoin regulamentada e atrelada ao dirham, enfatizando ainda mais o compromisso dos Emirados Árabes Unidos em diversificar sua oferta de stablecoins.
A Tether também anunciou planos para lançar uma stablecoin atrelada ao dirham dos Emirados Árabes Unidos, com o objetivo de atender à crescente demanda pela moeda do Golfo e fornecer uma alternativa ao dólar americano. A nova stablecoin em dirhams será lastreada pelas reservas dos Emirados Árabes Unidos e lançada em parceria com o Phoenix Group e a Green Acorn Investment, aguardando aprovação do Banco Central.
O Banco Central dos Emirados Árabes Unidos introduziu novas regulamentações para stablecoins, com início previsto para junho de 2025, permitindo o uso apenas de stablecoins lastreadas em dirhams para pagamentos. Criptomoedas como Bitcoin e Ethereum serão restritas a fins de negociação, investimento e tesouraria corporativa, enquanto stablecoins estrangeiras serão permitidas apenas para a compra de ativos virtuais específicos, como NFTs. Essa estrutura regulatória visa proporcionar clareza e reduzir a incerteza jurídica para as empresas, incentivando interações seguras entre empresas de fintech e provedores de serviços de ativos virtuais.
Esses desenvolvimentos nos Emirados Árabes Unidos refletem uma tendência global mais ampla de países que buscam estabelecer suas próprias stablecoins para afirmar sua soberania monetária e reduzir sua dependência do dólar americano. À medida que o mercado de stablecoins continua a evoluir, o surgimento de stablecoins não atreladas em dólar pode levar a um sistema financeiro global mais diversificado e resiliente.