O conglomerado chinês de tecnologia Huawei está supostamente se preparando para testar um processador de inteligência artificial (IA) de próxima geração, projetado para desafiar o domínio da Nvidia no setor de chips de alto desempenho.
A iniciativa reflete os esforços intensificados da China para construir um ecossistema de IA autossuficiente, à medida que as tensões comerciais e as restrições tecnológicas dos Estados Unidos continuam a aumentar.
De acordo com uma reportagem do The Wall Street Journal, a Huawei deve começar a testar um novo chip de IA, o Ascend 910D, muito em breve. Citando pessoas familiarizadas com o assunto, a reportagem sugere que a Huawei já contatou diversas empresas de tecnologia locais para distribuir unidades de amostra, com previsão de entrega até o final de maio.
Este chip é o mais recente da série Ascend da Huawei, que começou como parte de sua estratégia mais ampla de construir semicondutores competitivos e produzidos internamente. Espera-se que o 910D supere seus antecessores — Ascend 910B e 910C — e pode representar um sério desafio para o chip H100 da Nvidia, um processador líder globalmente usado para treinar modelos avançados de IA, como modelos de linguagem de grande porte e sistemas de visão computacional.
A Nvidia está há muito tempo na vanguarda da indústria de hardware de IA, com suas unidades de processamento gráfico (GPUs) impulsionando quase todos os principais desenvolvimentos de IA em todo o mundo. No entanto, o Ascend 910D da Huawei visa preencher essa lacuna. Embora detalhes sobre a arquitetura do chip e benchmarks específicos permaneçam em segredo, os primeiros relatórios sugerem que a Huawei está focada não apenas no desempenho bruto, mas também em melhorar a eficiência de todo o sistema por meio de clusters de computação e matrizes de chips.
O sistema CloudMatrix 384 da Huawei, revelado em abril, exemplifica essa abordagem baseada em sistemas. Em vez de simplesmente aprimorar o desempenho individual dos chips, o CloudMatrix conecta centenas de processadores Ascend em paralelo para fornecer enorme poder de computação — uma arquitetura projetada para lidar com as exigentes cargas computacionais de treinamento e implantação de modelos de IA. Essa abordagem enfatiza a capacidade de força bruta por meio da escala, o que poderia permitir que a Huawei competisse mesmo que seus chips individualmente não superassem o desempenho dos produtos da Nvidia.
O lançamento do Ascend 910D ocorre em um momento em que Pequim busca autossuficiência tecnológica. Em meio à intensificação das sanções e dos controles de exportação de Washington, as autoridades chinesas estão supostamente instando as empresas locais a aumentarem suas compras de chips produzidos internamente. Espera-se que empresas estatais de telecomunicações e gigantes da tecnologia como a ByteDance — dona do TikTok — estejam entre as primeiras a receber os modelos mais antigos da Huawei e, possivelmente, os novos chips 910D.
A estratégia nacional mais ampla foi destacada em uma reunião do Politburo recentemente, durante a qual o presidente chinês, Xi Jinping, reiterou o compromisso do país em alcançar autossuficiência e autofortalecimento no desenvolvimento de IA.
Xi enfatizou a importância de fechar lacunas tecnológicas e fortalecer a pesquisa fundamental. Ele pediu um foco coletivo no domínio de tecnologias essenciais, como semicondutores de ponta e software básico, solicitando a construção de um conjunto independente de tecnologias de IA abrangendo hardware e software.
Enquanto isso, as restrições americanas estão dificultando cada vez mais a atuação da Nvidia na China. Em abril, a empresa projetou US$5,5 bilhões em encargos vinculados ao seu estoque de chips de IA, como resultado de novos controles de exportação que limitam as vendas para empresas chinesas. O governo americano expandiu sua lista negra comercial para incluir o chip H20 da Nvidia — seu modelo mais potente, que ainda era elegível para venda na China segundo as regras anteriores. A adição do H20 à lista efetivamente impede a Nvidia de fornecer chips de IA de ponta para empresas chinesas.
Além disso, a exportação de unidades de memória de alta largura de banda — um componente crítico para processadores de IA — também foi restringida, dificultando o fornecimento de peças necessárias para a construção ou aprimoramento de seus próprios chips por empresas chinesas.
Essas medidas fazem parte de uma campanha ampla dos EUA para restringir o acesso da China à tecnologia avançada, alegando preocupações com a segurança nacional. No entanto, elas também estão alimentando um esforço paralelo na China para acelerar a inovação doméstica e reduzir a dependência de fornecedores estrangeiros.

O desenvolvimento do chip Ascend 910D pela Huawei simboliza uma nova fase na corrida global por chips, onde as tensões geopolíticas não são mais apenas uma questão secundária, mas uma força central que molda o futuro da tecnologia. À medida que os EUA e a China continuam a divergir em frentes econômicas e estratégicas, a pressão para construir infraestruturas de IA independentes se intensificou em ambos os lados.