No final de março de 2025, a GameStop, uma conhecida varejista de videogames, ganhou as manchetes ao anunciar sua decisão de investir em Bitcoin. Esse movimento desencadeou uma mistura de reações de analistas financeiros, investidores e especialistas do setor, com alguns vendo isso como uma mudança estratégica ousada e outros questionando sua viabilidade.
O investidor Jason Calacanis, estava entre os críticos da decisão da GameStop. Em uma postagem nas redes sociais, ele sugeriu sarcasticamente que comprar Bitcoin pode ser uma estratégia para empresas de capital aberto que lutam para estabelecer um modelo de negócios sustentável. Ele fez referência a Michael Saylor, o cofundador da MicroStrategy, uma empresa conhecida por suas aquisições agressivas de Bitcoin, sugerindo que a GameStop pode estar seguindo um manual semelhante sem um plano claro de longo prazo.
Por outro lado, alguns especialistas financeiros acreditam que há benefícios tangíveis em manter Bitcoin como um ativo corporativo. Tomas Fanta, diretor da empresa de investimento em criptomoedas Heartcore, destacou que o Bitcoin oferece potencial valorização de preço a longo prazo e, com o tempo, pode apresentar uma correlação menor com os mercados de ações tradicionais. No entanto, ele também alertou contra a visão do Bitcoin como uma estratégia de último recurso para empresas em dificuldades, enfatizando que um plano financeiro claro deve acompanhar tal movimento.
Saul Rejwan, sócio-gerente da Masterkey, uma empresa de capital de risco focada em investir em criptomoedas em estágio inicial, ecoou esse sentimento. Ele argumentou:
“O papel do Bitcoin como um ativo de reserva corporativa está se tornando mais popular do que uma estratégia marginal. As empresas que se alinham com um futuro digital e resistente à inflação podem se beneficiar da incorporação do Bitcoin em suas estratégias financeiras.”
Ele também destacou que as empresas que resistem à mudança geralmente se encontram em declínio, citando a Nokia como exemplo. De sua perspectiva, a adoção do Bitcoin pode ser vista como uma evolução necessária em vez de uma aposta desesperada.
Georgii Verbitskii, o fundador do aplicativo de investimento em criptomoedas TYMIO, também apoiou a ideia de que a GameStop poderia servir como um estudo de caso para a futura adoção corporativa do Bitcoin. Ele afirmou que adicionar Bitcoin ao balanço de uma empresa não é apenas uma questão de especulação; se feito corretamente, pode fornecer vantagens financeiras reais e de longo prazo.
Como parte dessa estratégia, a GameStop divulgou planos para levantar US$1,3 bilhão por meio de títulos conversíveis de 0% com vencimento em 2030. O objetivo era usar esse capital para adquirir Bitcoin. No entanto, os críticos questionaram o momento dessa mudança, dado que os preços do Bitcoin são altamente voláteis e que a própria empresa tem enfrentado desafios no setor de varejo. Somando-se a essas preocupações, a empresa também anunciou planos para fechar um número substancial de lojas físicas, o que alguns viram como um indicador de dificuldades financeiras mais profundas.
Analistas de mercado como Bret Kenwell, apontaram que a mudança em direção ao Bitcoin parece ser uma aposta de alto risco, em vez de uma estratégia bem calculada:
“Embora o Bitcoin tenha ganhado aceitação geral entre investidores institucionais, ele continua sendo um ativo imprevisível. Além disso, as ações da GameStop já estavam sob pressão, caindo mais de 23% em 2025 antes do anúncio do Bitcoin.”
A decisão de investir em Bitcoin pode ser parte de um esforço maior para permanecer relevante em um ambiente de negócios em rápida mudança. A empresa enfrentou desafios contínuos, incluindo o declínio nas vendas de jogos físicos e o aumento da concorrência de plataformas de jogos digitais. Em resposta, o conselho da GameStop aprovou uma política de investimento revisada que inclui o Bitcoin como um ativo de reserva do tesouro. Essa abordagem reflete a da Strategy, que detém mais de 500.000 BTC e se posicionou como uma grande detentora institucional de Bitcoin.
Alguns analistas argumentam que a mudança representa uma tentativa de se proteger contra a inflação, ao mesmo tempo em que se alinha com as tendências financeiras e tecnológicas em evolução. Outros permanecem não convencidos, acreditando que investir em Bitcoin não aborda os principais desafios da empresa, como a mudança de hábitos do consumidor e a transformação digital da indústria de jogos.
Muitas empresas passaram a explorar investimentos em Bitcoin. A Tesla, por exemplo, fez uma compra de Bitcoin de alto perfil em fevereiro de 2021, adquirindo 42.000 BTC no valor de US$1,5 bilhão na época. Essa mudança demonstrou que, para empresas com liquidez suficiente, o Bitcoin poderia servir como um ativo lucrativo, embora arriscado.