O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) está embarcando em uma expansão significativa de suas capacidades tecnológicas, indo além do treinamento interno para auxiliar diretamente os governos nacionais na adoção da tecnologia de registro distribuído (DLT). Durante um encontro recente nos escritórios da Cidade da ONU em Copenhague, Robert Pasicko, chefe da equipe de tecnologia financeira do PNUD, conhecida como AltFinLab, revelou planos para dois pilares operacionais principais, concebidos para preencher a lacuna entre a hesitação burocrática e a inovação tecnológica. Essas iniciativas incluem uma academia de educação especializada em blockchain, voltada para funcionários do governo, e um órgão consultivo de alto nível composto por líderes do setor.
Essa mudança estratégica marca um aprofundamento do engajamento da ONU com as tecnologias da Web3. Embora a organização já tivesse estabelecido uma academia de blockchain focada na capacitação de sua própria equipe interna — um programa que envolveu a colaboração com parceiros como a Fundação ALGORAND —, a nova iniciativa representa uma evolução voltada para o exterior. O objetivo não é mais apenas entender a tecnologia, mas implementá-la na estrutura da administração pública. Pasicko indicou que a nova academia está prestes a iniciar suas operações, com a seleção dos quatro governos parceiros iniciais prevista para ser finalizada em breve. Esse processo de seleção servirá como projeto piloto, permitindo que o PNUD aprimore seu currículo e mecanismos de apoio antes de uma implementação global mais ampla.

Para apoiar esse ambicioso mandato educacional, o PNUD estabeleceu parcerias estratégicas para garantir que o currículo seja rigoroso e aplicável na prática. Relatórios indicam colaborações com entidades como a EXPONENTIAL SCIENCE FOUNDATION para ajudar a estruturar a academia. O currículo foi projetado para abordar cinco áreas críticas em que o blockchain pode acelerar as metas de desenvolvimento: finanças digitais inclusivas, governança transparente, integridade da cadeia de suprimentos, resiliência climática e soluções de identidade digital. Ao se concentrar nesses pilares específicos, a iniciativa visa ir além das discussões teóricas sobre criptomoedas e em direção à implantação de infraestrutura que possa resolver problemas tangíveis do setor público, como reduzir a corrupção em registros de terras ou garantir a rastreabilidade da ajuda humanitária.
Paralelamente ao braço educacional, está sendo formado um órgão consultivo sobre blockchain, um conceito que, segundo relatos, tomou forma durante discussões na Assembleia Geral da ONU em Nova York.
“Reunir importantes atores do setor privado em pé de igualdade com responsáveis pelo desenvolvimento cria um fórum onde o código encontra a política.”
Este grupo consultivo destaca-se pela inclusão de atores como a ETHEREUM FOUNDATION, a STELLAR FOUNDATION e a POLYGON LABS. O órgão consultivo tem como objetivo orientar as nações através das complexidades da regulamentação, interoperabilidade e padrões técnicos, podendo entrar em operação em poucos meses, caso a trajetória atual se mantenha.
O ímpeto para essas iniciativas deriva de uma extensa pesquisa conduzida pelo PNUD, que identificou aproximadamente trezentos casos de uso potenciais para blockchain em operações governamentais. A organização não está partindo do zero; está construindo sobre uma base de projetos-piloto ativos em vinte países. Um exemplo destacado por Pasicko é a parceria com a DECAF, um sistema de pagamento baseado em criptomoedas projetado para facilitar a inclusão financeira. Ao permitir que as pessoas acessem serviços financeiros por meio de um aplicativo para smartphone, essas soluções contornam completamente a infraestrutura bancária tradicional, uma vantagem crucial para países em desenvolvimento.
Pasicko ofereceu uma analogia impressionante para ilustrar a inevitável mudança na infraestrutura financeira, comparando o sistema bancário tradicional a cabines telefônicas públicas.
“Assim como os celulares tornaram obsoletas as cabines telefônicas, a digitalização do valor pode tornar redundantes caixas eletrônicos e agências bancárias físicas.”
Nessa perspectiva, o futuro sistema financeiro não exigirá infraestrutura física robusta; apenas conexão à internet e uma carteira digital. Embora as cabines telefônicas em países como o Japão tenham encontrado nova função como pontos de acesso Wi-Fi, sua utilidade original desapareceu — e o setor bancário pode enfrentar destino semelhante.
A transição para essa nova realidade digital provavelmente não será dominada por uma única classe de ativos. Em vez disso, Pasicko vislumbra um futuro híbrido onde criptomoedas, stablecoins privadas e moedas digitais de bancos centrais coexistirão e competirão. Diferentes países adotarão combinações distintas conforme suas necessidades econômicas e regras locais. A tendência estrutural, porém, é clara: a tecnologia está substituindo intermediários, o que ameaça estruturas de poder estabelecidas.
O potencial da blockchain para remodelar a sociedade traz consigo profundas considerações éticas.
“Assim como o fogo pode aquecer uma casa ou incendiar uma aldeia, a blockchain pode empoderar populações ou ampliar desigualdades.”
Se implementada com cuidado, pode oferecer acesso financeiro global e garantir direitos de propriedade; se capturada por interesses poderosos, pode aumentar vigilância e exclusão. As novas iniciativas do PNUD buscam garantir que a transformação digital global beneficie a maioria — e não apenas poucos privilegiados.
