Ratos paralisados voltam a andar após reparo na medula espinhal

Ratos paralisados voltam a andar após reparo na medula espinhal

Uma iniciativa científica descentralizada, a HydraDAO, relatou recentemente um avanço significativo na pesquisa sobre lesões na medula espinhal. De acordo com o anúncio, pesquisadores desenvolveram uma nova técnica que permitiu que ratos com medula espinhal completamente rompida recuperassem a mobilidade em apenas cinco dias. Essa rápida recuperação foi alcançada por meio da aplicação de um composto especializado conhecido como Neuro-PEG, uma combinação de polietilenoglicol (PEG) e quitosana, substâncias conhecidas por sua capacidade de fundir membranas celulares.

A pesquisa, liderada por Andrey Panferov no âmbito do projeto ‘Dowell Spinal Fusogens’, recebeu financiamento de 380.700 USDC de doadores. A abordagem da equipe envolve o uso de Neuro-PEG, que é fotopolimerizável — o que significa que pode ser solidificado com luz — para criar uma estrutura estável que facilita a reconexão de fibras nervosas rompidas. Além disso, o procedimento incorpora estratégias neuroprotetoras, como resfriamento localizado e a administração de inibidores de morte celular para minimizar danos adicionais aos tecidos nervosos.

Observações preliminares sugerem que os ratos tratados começaram a apresentar sinais de recuperação da função motora alguns dias após a cirurgia. No entanto, os pesquisadores enfatizaram que esses achados são iniciais e que resultados abrangentes, incluindo dados de grupos controle, devem ser publicados até o final do ano.

Com base nessa pesquisa, um estudo publicado em dezembro de 2023 no periódico revisado por pares ‘Surgical Neurology International’ explorou a aplicação do Neuro-PEG em um modelo suíno. Neste estudo, cinco porcos húngaros Mangalica foram submetidos à transecção completa da medula espinhal torácica. Três porcos receberam o tratamento com Neuro-PEG, enquanto dois serviram como controle. Os porcos tratados demonstraram recuperação significativa da função motora ao longo de um período de 60 dias, incluindo a capacidade de suportar seu peso e recuperar a mobilidade. Em contraste, o grupo controle não apresentou recuperação significativa. A microscopia de fluorescência confirmou a presença de axônios cruzando o local da lesão nos animais tratados, indicando regeneração nervosa bem-sucedida.

Os resultados promissores desses estudos em animais levaram a discussões sobre o potencial para aplicações em humanos. A equipe de pesquisa registrou patentes para a tecnologia Neuro-PEG e prevê fontes de receita provenientes de kits cirúrgicos especializados e programas de treinamento para profissionais médicos. No entanto, especialistas alertam que, embora as descobertas sejam encorajadoras, ensaios clínicos extensivos e pesquisas adicionais são necessários para avaliar a segurança e a eficácia desse tratamento em humanos.

O conceito de usar fusogênios como o PEG para regeneração nervosa já foi explorado no passado. O neurocirurgião Sergio Canavero propôs o uso do PEG em seus planos para transplantes de cabeça humana. Embora as ideias de Canavero tenham recebido atenção significativa da mídia, foram recebidas com ceticismo pela comunidade científica devido a questões éticas e à falta de evidências empíricas que sustentem a viabilidade de tais procedimentos.

Em contraste, a pesquisa atual concentra-se em aplicações mais imediatas e práticas, como a restauração da função após lesões na medula espinhal. O uso do Neuro-PEG representa um avanço significativo no campo da medicina regenerativa, oferecendo esperança para tratamentos eficazes para lesões na medula espinhal. No entanto, a transição de modelos animais para pacientes humanos envolve desafios complexos, incluindo a garantia da segurança a longo prazo, a compreensão dos mecanismos de regeneração nervosa e a obtenção de aprovações regulatórias.

O desenvolvimento do Neuro-PEG e sua aplicação bem-sucedida em modelos animais marcam um avanço impressionante na pesquisa sobre lesões na medula espinhal. Embora a perspectiva de traduzir essas descobertas em tratamentos humanos seja promissora, é importante prosseguir com rigorosa validação científica e considerações éticas. Os próximos anos serão cruciais para determinar a viabilidade dessa abordagem inovadora em ambientes clínicos.


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