Riscos das tesourarias de criptomoedas lembram crise de 2008

Riscos das tesourarias de criptomoedas lembram crise de 2008

Josip Rupena, CEO da plataforma de empréstimos Milo e ex-analista do Goldman Sachs, fez uma comparação impressionante entre os riscos representados pelas empresas de tesouraria de criptomoedas e as obrigações de dívida colateralizadas (CDOs) que contribuíram para a crise financeira de 2007-2008. Ele sugere que, assim como as CDOs transformaram ativos hipotecários relativamente seguros em produtos financeiros complexos e opacos, as empresas de tesouraria de criptomoedas estão transformando ativos digitais simples em estruturas complexas e repletas de novos riscos.

As empresas de tesouraria de criptomoedas normalmente adquirem ativos ao portador, como o Bitcoin, que inerentemente não apresentam risco de contraparte. No entanto, ao introduzir camadas como governança corporativa, medidas de segurança cibernética e gestão de fluxo de caixa, essas empresas adicionam complexidades que podem obscurecer a verdadeira exposição ao risco para os investidores. Rupena compara esse processo à forma como os títulos lastreados em hipotecas foram reempacotados em CDOs, dificultando a avaliação dos riscos subjacentes pelos investidores.

(Existem 178 empresas de capital aberto com BTC em seus balanços.)

Embora Rupena não preveja que as empresas de tesouraria de criptomoedas desencadearão diretamente o próximo mercado em baixa, ele alerta que empresas superalavancadas podem exacerbar as crises. Em momentos de estresse do mercado, essas empresas podem ser compelidas a liquidar seus ativos para cumprir com suas obrigações de dívida, o que pode levar a uma cascata de vendas forçadas que deprimem os preços dos ativos. Esse cenário reflete a dinâmica observada durante a crise de 2008, quando a liquidação forçada de CDOs contribuiu para um contágio financeiro mais amplo.

A ascensão das empresas de tesouraria de criptomoedas tem sido notável, com mais de 178 empresas de capital aberto detendo Bitcoin em seus balanços em 2025. Essas empresas frequentemente utilizam alavancagem para adquirir ativos digitais, criando uma situação em que os passivos são fixos, mas os ativos estão sujeitos à volatilidade do mercado. Esse “descasamento” pode ser perigoso, especialmente se o valor dos ativos digitais cair, levando a uma crise de liquidez.

Além dos riscos financeiros, essas empresas enfrentam desafios operacionais. A competência da gestão corporativa, a robustez das medidas de segurança cibernética e a capacidade de gerar fluxo de caixa consistente são fatores críticos que podem influenciar a estabilidade das empresas de tesouraria de criptomoedas. Quaisquer deficiências nessas áreas podem ampliar os riscos associados aos seus modelos de negócios.

A situação é ainda mais complicada pelas estratégias de diversificação de algumas empresas. Embora o Bitcoin continue sendo uma escolha popular, as empresas estão cada vez mais adicionando outras criptomoedas como Toncoin (TON), XRP (XRP), Dogecoin (DOGE) e Solana (SOL) às suas tesourarias. Essa diversificação introduz camadas adicionais de risco, pois o desempenho desses ativos pode variar significativamente e sua integração aos balanços corporativos pode não ser tão perfeita quanto o esperado.

As reações do mercado a esses desenvolvimentos têm sido mistas. Por exemplo, a Safety Shot, uma empresa de bebidas para saúde e bem-estar, anunciou em agosto de 2025 que adotaria a memecoin BONK (BONK) como seu principal ativo de reserva. O anúncio levou a uma queda de 50% no preço das ações da empresa, destacando a potencial volatilidade e o ceticismo dos investidores associados a essas estratégias de tesouraria não convencionais.

Em conclusão, embora as empresas de tesouraria de criptomoedas ofereçam maneiras inovadoras para as empresas obterem exposição a ativos digitais, elas também apresentam riscos significativos. A complexidade de seus modelos de negócios, aliada à volatilidade inerente às criptomoedas, cria um cenário em que a estabilidade financeira não é garantida. À medida que o setor continua a evoluir, será crucial que tanto as empresas quanto os reguladores considerem cuidadosamente esses riscos para evitar potenciais problemas sistêmicos.


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