O Bitcoin está prestes a entrar em uma fase significativa do que os especialistas do setor chamam de “choque de oferta“, uma condição que pode elevar seu preço a níveis mais altos do que em ciclos de mercado anteriores.
Em entrevista, Katalin Tischhauser, chefe de pesquisa da Sygnum, explicou que a interação entre o aumento da demanda e a redução da oferta disponível de Bitcoin pode gerar um poderoso efeito multiplicador na capitalização de mercado.
“Cada US$1 de nova demanda pode potencialmente levar a um crescimento adicional de US$20 a US$30 no valor de mercado. Temos exemplos anteriores, como o lançamento de ETFs de Bitcoin e o aumento do interesse durante os ciclos eleitorais nos EUA, como exemplos claros desse fenômeno.”
O termo choque de oferta, no contexto do Bitcoin, refere-se à rápida diminuição da oferta líquida — a quantidade de Bitcoin prontamente disponível para negociação em corretoras ou acessível para compra. Ao contrário dos mercados tradicionais, a oferta de Bitcoin é limitada a 21 milhões de moedas e, com o tempo, muitas moedas ficam bloqueadas em depósitos de longo prazo, carteiras perdidas ou cofres institucionais, efetivamente removendo-as de circulação.
Nos últimos 18 meses, a oferta líquida de Bitcoin tem diminuído constantemente. Essa tendência foi acelerada pelo surgimento de novos veículos de investimento, como os oferecidos pela Strategy, Twenty One Capital e outras instituições que acumulam Bitcoin como ativo de reserva, mantendo-o fora do mercado.
Tischhauser observou:
“Com uma oferta em declínio de um lado e vastos pools de capital institucional do outro, o cenário está pronto para uma alta significativa dos preços.”
O desequilíbrio significa que, quando a demanda dispara — seja devido à incerteza macroeconômica, clareza regulatória ou desenvolvimentos tecnológicos — o mercado pode experimentar movimentos de preços mais acentuados do que no passado.
Além da dinâmica de oferta e demanda, diversos fatores estruturais reforçam o cenário otimista em relação ao Bitcoin. Um deles é a clareza regulatória, que melhorou globalmente no último ano. À medida que as jurisdições definem regras mais claras para criptoativos, os investidores institucionais ganham confiança em participar mais ativamente, o que leva a maiores entradas de capital.
Além disso, pressões macroeconômicas como inflação, desvalorização cambial e incerteza geopolítica continuam a impulsionar o interesse no Bitcoin como reserva de valor deflacionária — frequentemente chamada de “ouro digital”. Ao contrário das moedas fiduciárias, que os governos podem imprimir à vontade, a oferta fixa de Bitcoin o torna uma proteção atraente contra riscos inflacionários.
Ampliando o sentimento otimista, os fundos negociados em bolsa (ETFs) de Bitcoin têm demonstrado notável estabilidade. Desde abril, os ETFs de Bitcoin registraram apenas quatro dias de saídas de capital, sugerindo um apetite sustentado dos investidores. Esses produtos financeiros facilitam a exposição de investidores institucionais e de varejo ao Bitcoin sem as complexidades da custódia direta.
Essa tendência é significativa porque os ETFs são frequentemente vistos como portas de entrada para grandes fluxos de capital para o Bitcoin, principalmente de investidores mais tradicionais que podem hesitar em lidar diretamente com carteiras e corretoras de criptomoedas.
Embora a perspectiva permaneça otimista, alguns especialistas alertam que o Bitcoin pode passar por uma fase de consolidação no curto prazo. Nick Forster, fundador da plataforma de pesquisa de criptomoedas Derive, descreveu isso como uma “pausa saudável” para o mercado.
“Para que o mercado sustente seu crescimento, ele precisa de tempo para digerir os ganhos recentes. Essa consolidação permite que os investidores reavaliem as avaliações, reduz a volatilidade de curto prazo e prepara o terreno para o próximo movimento de alta significativo.”
Essas pausas são comuns no histórico de preços do Bitcoin, frequentemente ocorrendo após rápidas altas de preço e antes de outra alta.
As metas de preço entre os analistas variam bastante, mas o otimismo predominante é claro. Alguns observadores do mercado projetam que o Bitcoin pode atingir novas máximas históricas nos próximos meses, com previsões variando de US$200.000 a US$300.000 por moeda.
Essas previsões ambiciosas são alimentadas pela combinação de oferta líquida decrescente, demanda crescente de investidores institucionais e condições macroeconômicas que favorecem a escassez de ativos digitais.
À medida que o Bitcoin passa por essa fase de potencial choque de oferta, a dinâmica do mercado parece se intensificar. Investidores, tanto grandes quanto pequenos, estarão observando atentamente como a oferta em queda e a demanda em expansão interagem. Com desenvolvimentos regulatórios favoráveis e entradas constantes de ETFs, as condições parecem propícias para um novo capítulo na evolução do preço do Bitcoin.
No entanto, como sempre nos mercados de criptomoedas, a volatilidade e a incerteza permanecem. Uma abordagem cautelosa, porém otimista, pode ser benéfica para os investidores, assim como para o Bitcoin evita esse momento crítico.