Brasil proíbe biometria de irís realizada pela Worldcoin

Brasil proíbe biometria de irís realizada pela Worldcoin

A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) do Brasil assumiu uma posição firme contra a Tools for Humanity (TFH), a empresa por trás do projeto de criptomoeda de escaneamento ocular anteriormente conhecido como Worldcoin.

A agência ordenou que a TFH interrompesse as operações no Brasil, proibindo efetivamente a coleta de dados biométricos de cidadãos brasileiros em troca de compensação financeira. A proibição, que entrou em vigor no dia seguinte, decorreu de uma investigação iniciada em novembro de 2024 após o lançamento do projeto World ID no país.

No cerne da decisão da ANPD está a preocupação de que oferecer criptomoedas como incentivo prejudica a legitimidade do consentimento do usuário ao coletar dados biométricos sensíveis. De acordo com a lei brasileira, o processamento de tais dados requer consentimento livre, informado, inequívoco e dado especificamente para fins designados. A autoridade concluiu que a compensação financeira poderia influenciar indevidamente os indivíduos, particularmente aqueles em situações economicamente vulneráveis, comprometendo assim a natureza voluntária de seu consentimento.

Além disso, a ANPD destacou os riscos associados à coleta de dados biométricos. Ao contrário de senhas ou outras formas de identificação digital, as informações biométricas — como escaneamentos de íris — não podem ser alteradas ou revogadas depois de compartilhadas. Isso levanta preocupações significativas de privacidade e segurança, particularmente se os dados forem violados ou redirecionados para usos não intencionais.

A intervenção regulatória do Brasil não é um incidente isolado. Preocupações semelhantes foram levantadas em outras jurisdições. Em dezembro de 2024, a autoridade de proteção de dados da Alemanha emitiu medidas corretivas contra a Worldcoin, obrigando o projeto a se alinhar aos rigorosos Regulamentos Gerais de Proteção de Dados (GDPR) da União Europeia. As autoridades espanholas também determinaram recentemente que a empresa exclua todos os dados de escaneamento de íris coletados no país, citando violações de privacidade.

Essas ações regulatórias internacionais refletem o crescente ceticismo sobre projetos de identidade digital baseados em biometria e seu potencial para explorar usuários sob o pretexto de inclusão financeira. Os críticos argumentam que, apesar de seu apelo futurista, tais iniciativas muitas vezes visam desproporcionalmente indivíduos de baixa renda, efetivamente coagindo-os a entregar dados pessoais para incentivos financeiros.

A World Network, cofundada em 2019 pelo CEO da OpenAI, Sam Altman, prevê uma identidade digital universal e um sistema financeiro alimentado por verificação biométrica. O projeto usa um dispositivo conhecido como “Orb” para escanear as íris dos indivíduos, criando um identificador exclusivo que supostamente aumenta a segurança e minimiza a fraude. Em troca da participação, os usuários recebem o token nativo da Worldcoin, WLD.

(Preço do WLD desde o lançamento.)

Embora o conceito tenha intrigado muitos nas indústrias de criptomoedas e tecnologia, o projeto enfrentou uma reação negativa significativa. Os críticos argumentam que confiar na verificação biométrica para construir uma rede financeira é inerentemente falho, pois levanta preocupações éticas, legais e de segurança. A incapacidade de excluir ou alterar dados biométricos torna os indivíduos permanentemente vinculados ao sistema, mesmo que depois se arrependam de sua decisão de participar.

A decisão da ANPD aumentou os desafios existentes da Worldcoin, contribuindo para o declínio contínuo de sua criptomoeda. Nas últimas 24 horas, o token WLD caiu mais de 8%, ficando abaixo de US$2. Isso representa um declínio impressionante de 83% em relação à sua máxima histórica de US$11,74 em março de 2024. A tendência de queda reflete crescentes pressões regulatórias e crescente ceticismo sobre a viabilidade do projeto a longo prazo.

À medida que os projetos de identidade digital baseados em biometria continuam a surgir, governos e órgãos reguladores em todo o mundo estão lutando com o equilíbrio entre inovação e proteção do usuário. Enquanto os proponentes argumentam que tais sistemas podem aumentar a inclusão financeira e a segurança, os críticos alertam que eles representam riscos significativos de privacidade e dilemas éticos.

A ação decisiva do Brasil contra a Worldcoin ressalta a necessidade de estruturas regulatórias mais fortes para governar o uso de dados biométricos em aplicações financeiras e tecnológicas. No futuro, as empresas que operam neste espaço precisarão priorizar a transparência, considerações éticas e conformidade com as leis globais de proteção de dados para ganhar a confiança do público e a aprovação regulatória.


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