A tokenização de ativos do mundo real (RWA) surgiu como um conceito transformador no setor financeiro, prometendo revolucionar as classes de ativos tradicionais, convertendo-as em tokens digitais em plataformas blockchain. Esse processo visa aumentar a liquidez, a transparência e a acessibilidade para investidores em todo o mundo. Embora as projeções indiquem um crescimento substancial no mercado de tokenização de RWA, especialistas do setor apresentam perspectivas variadas sobre seu potencial e aplicabilidade em diferentes classes de ativos.
Um estudo abrangente conduzido pelo Standard Chartered e Synpulse, intitulado “Tokenização de Ativos do Mundo Real: Um Divisor de Águas para o Comércio Global“, prevê que a demanda por ativos tokenizados poderá atingir aproximadamente US$30,1 trilhões até 2034. Prevê-se que os ativos de financiamento comercial constituam cerca de 16% desse mercado, ressaltando o papel significativo da tokenização na redução da lacuna global de financiamento comercial.
O relatório enfatiza que a digitalização de ativos de financiamento comercial pode solucionar desafios existentes, como falta de familiaridade, inconsistências de preços e ineficiências operacionais, atraindo, assim, uma gama mais ampla de investidores. Apesar das projeções otimistas, alguns líderes do setor defendem uma abordagem mais cautelosa em relação à ampla adoção da tokenização.
Michael Sonnenshein, diretor de operações da Securitize e ex-CEO da Grayscale Investments, expressou reservas. Ele questionou a viabilidade de atingir o mercado projetado de US$30 trilhões, destacando que os sistemas existentes facilitam efetivamente a negociação de muitos ativos tradicionais. Ele observou:
“Só porque pode ser tokenizado não significa que deva ser. A mera capacidade da tokenização não justifica inerentemente sua implementação em todas as classes de ativos.”
O ceticismo se estende especificamente ao setor imobiliário. Embora reconheça os benefícios teóricos da tokenização de ativos imobiliários — como a redução de intermediários e a otimização de processos — essas vantagens podem não se traduzir efetivamente em representação prática da propriedade. Sonnenshein afirmou:
“Tenho certeza de que existem todos os tipos de eficiências que podem ser obtidas usando a tecnologia blockchain para eliminar intermediários, custódias e todos os tipos de coisas no mercado imobiliário. Mas acredito que, hoje, o que a economia onchain está exigindo são ativos mais líquidos.”
Contrariando o ponto de vista de Sonnenshein, diversas iniciativas foram lançadas para explorar e implementar a tokenização imobiliária, particularmente no Oriente Médio. Em janeiro de 2025, o DAMAC Group, sediado em Dubai, firmou uma parceria de US$1 bilhão com a plataforma blockchain MANTRA para tokenizar uma gama diversificada de ativos, incluindo imóveis, hospitalidade e data centers. Essa colaboração visa alavancar a tecnologia blockchain para aumentar a transparência, a segurança e a acessibilidade no mercado imobiliário.
Amira Sajwani, Diretora Geral de Vendas e Desenvolvimento da DAMAC, expressou entusiasmo pela parceria, afirmando que ela se alinha ao compromisso da empresa com a inovação e soluções inovadoras.
Da mesma forma, em julho de 2024, a MANTRA firmou uma parceria com a MAG, outra importante construtora dos Emirados Árabes Unidos, para tokenizar US$500 milhões em ativos imobiliários. Essa iniciativa se concentra no Keturah Reserve, um empreendimento residencial de luxo em Dubai, com o objetivo de democratizar o acesso a investimentos imobiliários premium por meio da tecnologia blockchain. Esses empreendimentos refletem a ambição da região de se posicionar como um polo global para ativos digitais e criptoativos, promovendo um ambiente propício aos avanços tecnológicos na gestão de ativos.
Embora a tokenização de ativos de risco (RWAs), particularmente no setor imobiliário, apresente oportunidades promissoras, ela também apresenta diversos desafios. Incertezas regulatórias, requisitos de infraestrutura tecnológica e prontidão do mercado são fatores críticos que influenciam o sucesso da implementação de projetos de tokenização. A postura cautelosa de Sonnenshein destaca a necessidade de avaliar se a tokenização agrega valor tangível a classes específicas de ativos ou apenas introduz complexidade sem benefícios substanciais.
Além disso, o reconhecimento legal de ativos tokenizados e a aplicação dos direitos associados continuam sendo áreas que exigem estruturas claras e consenso internacional. Garantir a proteção do investidor e manter a conformidade com as regulamentações financeiras existentes são fundamentais para promover a confiança e a transparência.