Em uma entrevista recente, Michael Ellis, vice-diretor da Agência Central de Inteligência (CIA) dos EUA, enfatizou que o Bitcoin não é mais apenas um ativo descentralizado ou um investimento especulativo — agora é um componente crítico da segurança nacional. Falando no podcast apresentado pelo investidor Anthony Pompliano, Ellis discutiu o crescente papel do Bitcoin (BTC) tanto em operações de inteligência quanto em estratégias geopolíticas.
De acordo com Ellis, o Bitcoin está sendo usado em esforços de inteligência não apenas como um ativo financeiro, mas também como uma ferramenta de vigilância, coleta de dados e contrainteligência.
“Estamos trabalhando em estreita colaboração com as agências de segurança pública para monitorar as transações de Bitcoin. É parte integrante de nossas operações mais amplas de coleta de dados.”
A CIA tem tido uma participação ativa no rastreamento de atividades financeiras baseadas em blockchain, que podem servir como pistas valiosas em investigações relacionadas ao financiamento do terrorismo, crimes cibernéticos e outras ameaças.
Ellis também reconheceu a adoção generalizada de criptomoedas por instituições, afirmando:
“O Bitcoin veio para ficar. As criptomoedas vieram para ficar.”
Ele elogiou o atual governo dos EUA por sua abordagem progressista em relação aos ativos digitais e observou que os EUA devem permanecer competitivos nessa arena tecnológica, especialmente contra adversários como a China.
Os comentários de Ellis marcam uma mudança significativa em relação aos ideais libertários e cypherpunk originais que sustentaram a criação do Bitcoin. Inicialmente celebrado como uma alternativa descentralizada e preservadora da privacidade às moedas fiduciárias, o Bitcoin está sendo cada vez mais cooptado por governos e instituições. Essa evolução gerou debates na comunidade criptográfica, já que a crescente institucionalização do ativo parece entrar em conflito com seus valores fundamentais de privacidade e autonomia.
Essa tensão foi ainda mais amplificada em março de 2025, quando o presidente dos EUA, Donald Trump, assinou uma ordem executiva estabelecendo uma ‘Reserva Estratégica de Bitcoin’. Embora a mudança tenha sido bem recebida por alguns — principalmente pelo CEO da Bitcoin Magazine, David Bailey — outros na comunidade se mostraram mais céticos.
Erik Voorhees, fundador da Venice AI e conhecido defensor do Bitcoin, expressou preocupação com o envolvimento do governo na propriedade de criptomoedas. Embora tenha admitido que, se os EUA fossem deter algum ativo digital, deveria ser o Bitcoin, ele alertou que o controle estatal mina o ethos de descentralização das criptomoedas.
Do ponto de vista geopolítico, Ellis enfatizou que os ativos digitais se tornaram uma nova frente na competição global pelo domínio tecnológico:
“É importante que os EUA garantam uma posição forte na economia de ativos digitais para contrabalançar rivais como a China, que já lançou sua própria moeda digital de banco central (CBDC), o yuan digital.”
Isso ecoa preocupações maiores entre os formuladores de políticas de que as criptomoedas, especialmente o Bitcoin, podem servir tanto como ferramentas para a independência econômica quanto como ameaças potenciais se não forem controladas. Vários departamentos do governo dos EUA — incluindo o Tesouro, o Departamento de Justiça e, agora, a CIA — intensificaram seu envolvimento no monitoramento, regulamentação e fiscalização de criptomoedas nos últimos anos.
A institucionalização do Bitcoin e de outras criptomoedas não é um fenômeno novo. Em 2020, Therese Chambers, então diretora de investigações regulatórias e de varejo da Autoridade de Conduta Financeira (FCA) do Reino Unido, observou que os criptoativos estavam se comportando cada vez mais como instrumentos financeiros tradicionais:
“O que antes era concebido como uma ferramenta para privacidade e autonomia, agora se tornou um veículo para finanças institucionais.”
Essa transição é evidente na crescente popularidade dos fundos negociados em bolsa (ETFs) de Bitcoin, das tesourarias corporativas que detêm BTC e, agora, do estabelecimento de reservas governamentais. Embora isso legitime o Bitcoin aos olhos de investidores e reguladores tradicionais, também levanta questões sobre se o espaço das criptomoedas está perdendo sua alma ideológica no processo.